A ciranda encantada

No alto do céu de papel,
uma lua de mel
Assistia na rua do fel,
o sopro lento do vento
sobre um velho chapéu.

Um vestido caído, dependurado;
De fiapos e retalhos manchados,
Bocejava e esmaecia;
Adormecia, numa lata quase vazia.

Na esquina da vida
Solidão e ferida
Almas gêmeas perdidas
Assim se encontravam.

O vento erguera o vestido
Rebotalho empinado, esguio.
Parecia uma dama fantasma,
Flutuando em ciranda encantada.

O chapéu suspenso em redemoinho
Pede a dama uma dança e nada mais.
Boemia de notas em frestas e brisas
Tornavam vivos os tecidos sem vida.

Um casal de ninguém em cortejo.
Um vestido antigo e um chapéu gracejo.
Formou-se ali, no instante que vi,
Duas partes de um inteiro.

Quando o vento se foi, o vestido caiu.
O chapéu se prendeu como carrapicho;
Abraçara o vestido como um bicho
E ambos, viraram um só, na lata de lixo.

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