Divagações

Vixe, que susto!
Imaginação, ilusão ou vulto?
Assobios, calafrios envoltos.
Calçada sombria, arrepio nos pelos;
esquinas vazias,
pensamentos cheios…

E se os ponteiros do relógio parado
fossem movidos para o passado?
E se por acaso, fossem arrancados?
A que tempo pertenceria?
Em qual deles pausaria?

Será que perpetuaria
de onde tudo parou?
Ou rebobinaria ao meio do que findou?
Avançaria pelo sentido inverso
Para quando jaz zás-trás?

Lembro de um dia em que o céu ardia
e no horizonte surgia em surdina,
O véu brando a adornar a matina.

Dançávamos eu e minhas fraquezas
sob os aplausos da franqueza.
Pelos delírios da vaidade
Que um dia se converteriam
em singelas saudades.

Meus pássaros e flores
Cantarolavam rumores.
Eram eu e meus atores
sob o julgo de minha crítica;
a velha chatice analítica.

De lá pra cá, bla-bla-blás!
Era eu quem falava;
Eu quem ouvia.
Reclamava ou por pirraça,
fingia não ouvir ou que não via.

Ainda sou assim…
Um anjo bom, tentado pelo ruim.
Um zé birrento sem noção.
Mas, carregado de compaixão.

Vixe, que susto!
Seria eu mesmo aquele vulto?
A retornar de onde jamais sairia!
Ou seria o fim, um ponto de partida?

Seria mesmo a vida, uma coisa cíclica?
Um déjà-vu de vidas repentinamente repetidas;
O futuro que o passado, por outro lado já conhecia.
Seria o passado, um futuro que se vivia?

Deixa quieto! Passarei reto!
Deixarei os ponteiros de lado.
Vai que o futuro é mesmo o passado!
Vai que eu o tenha decorado…

Não há mais susto!
De fato, tudo é possível.
O que hoje vejo, não surpreende…
Um dia é invisível, no outro é latente.

Os ponteiros de outrora
Mesmo parados, pairam no tempo.
E apesar do pensamento que incide
Tudo aquilo que a novidade permite
Com o tempo vira mesmice.

Os ponteiros giram e param.
Estagnados, voltam a se mover.
Tic, tac, tic, tac…
A razão e o desejo,
alternando conforme a vez.

Agora e depois, agora e depois…
Agora deixando a presença;
E depois mergulhando na ausência
para adiante emergir novamente,
e voltar a ser algo passado
que o futuro verá no presente.

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