Era uma vez, fim – a história mais curta do mundo

Certa noite, antes de dormir. Meu filho de 3 anos, pediu para que eu contasse uma história nova, diferente das que costumava ouvir. Geralmente invento um personagem com as características dele e o faço viver momentos ou aprendizados sobre histórias do passado, ciência e uns conceitos básicos, claro que de maneira muito simplificada para que possa entender e interromper várias vezes com perguntas, como sempre faz sua mente curiosa.

Contei para ele umas 3 histórias, mas a última e mais rápida de todas que já contei, não foi menos interessante que as duas anteriores. Disse a ele que contaria “a estória mais curta do mundo”. Ele aguardou em breve silêncio e aí eu disse: Era uma vez, fim.

Ele riu… E eu também porque ele entendeu quão curta era aquela estória que mal começou e já havia findado. Dias depois, vi ele contando a mesma história sem conteúdo algum para a avó.

Refletindo sobre a ideia que há por trás da “estória mais curta do mundo”. Tentei me concentrar no curtíssimo intervalo de tempo entre o início e o fim da estória. Conhecendo a passagem do tempo e sua relatividade na vida das pessoas, na natureza e no universo, percebo que mesmo nos mais curtos dos intervalos, há a falsa ilusão de que tudo dura para sempre ou mais tempo do que se possa imaginar. E assim, as pessoas se ocupam em acumular coisas que o tempo haverá de tornar descartáveis e desinteressantes, porque ao conquistarmos algo, tendencialmente esse algo se torna menos interessante pelo simples fato de haver sido conquistado.

Talvez, um dos segredos da vida esteja no quanto se é grato(a) pelas conquistas alcançadas no curto intervalo de tempo em que vivemos. Uns em frações maiores, outros menores. Mas ser grato não é apenas declarar “sou grato” para si ou para alguém, sem que de fato seja sentida a sensação representada por essa palavra muito teórica e pouco experimental. A gratidão trás efeitos positivos e libertadores com poder de fazer as pessoas refletirem e obterem respostas para muitas perguntas.

A maioria das pessoas, se deixa contaminar pelo próprio ego em suas certezas. No mundo singular onde todo resto antes e depois do “eu” é secundário e obrigatoriamente escravo da própria vontade, tudo não passa de distração. A vida não é mais que um meio tempo onde iniciamos nossa história e num piscar de olhos, desaparecemos por completo.

No fim, uma pergunta acabará ecoando no vácuo da grande ausência de todos nós: O que fizemos nesse curto período em que tudo ou nada se resumia em decisões? É como se a vida fosse uma prova com muitos gabaritos a serem preenchidos em pouco tempo. Quem acertar mais ou menos ganhará ou perderá a aprovação no curso da vida que segue de alguma forma, mesmo após a morte. O que fizemos foi gabaritado, não há meios de desfazer. O relógio da vida não para e nas próximas respostas, sempre haverá a chance de voltar a acertar mais do que se errou. A não ser que estejamos diante das últimas perguntas. Estas que apesar de contabilizar mais pontos, dependem das anteriores para serem respondidas.

Minutos, horas, dias, meses, anos… Quanto tempo ainda temos para concluir a prova da vida? Ninguém sabe. O fato é que em algum momento o professor olha de longe, chama alguém pelo nome e diz: sua prova acabou!

Há aqueles(as) que por medo de responder certos quesitos, preferem pular para o próximo e deixar velhas perguntas sem resposta, sem definição, sem solução. Uma eterna pendência desmembrada num mar de interrogações deixadas para trás. Contudo, esses quesitos vazios e perdidos, pesarão mais do que aqueles em que erramos feio. E em boa parte dos casos, definirá a nota final.

O que fizemos e estamos a fazer agora, resume-se aos pontos que ganhamos e perdemos na prova da vida. E no meio de todo esse ciclo de ocorrências que a memória faz parecer durar tanto, o que realmente existe, é a contação de histórias reais e singulares, resumidas numa única instância que narra a vida de um ser humano em 4 palavras duma linha estreita e cercada de vazios: Era uma vez, fim.

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