[vc_row][vc_column][vc_column_text]
Dum encontro de partículas
Multiplicaram-se gotículas
E o firmamento, em pouco tempo
Virou um manto cinzento.
Milhares de gotas saltaram de cima!
Pingaram sobre a testa da esperança,
Na face marcada com rugas da infância
E sobre o encaliço de mãos maltrapilhas.
Surgiu um clarão sobre a serra
Que iluminou toda terra.
O vento em sinuoso presságio,
Correu apressado, varreu o terreiro.
Ah, bendito seja! arauto das chuvas de janeiro.
Que escorre na face e mina do olhar sertanejo.
Que cai no barreiro seco e sangra no ribeirão.
Assim, um som rouco e estampido
Cruzou o céu feito um rugido.
E a chuva fina sobre o sobrado
Era como uma moção de aplausos.
Escancarou-se a boca carnuda
Daquele corpo esguio.
Na mente, uma breve prece
E os planos para o plantio.
Esse ano vai ser de chuva!
Na mesa muita fartura…
Como nunca mais se viu.
Riqueza é cuscuz, queijo assado,
Jarra com leite de gado,
Panela com bode guisado,
Café e tapioca no prato.
Pamonha, xerém e canjica,
Farofa de tanajura,
Andu com piaba frita,
Barrote de rapadura…
Assim sonhou acordado,
O cacto-humano franzino.
Beirando um grande cercado,
Estacas de muitos angicos.
Desse jeito é que nascem as histórias
Do povo do alto sertão.
Basta haver um simples encontro
Para então surgir um bordão…
Ou um cordel enfeitado com rima
Pra narrar as mudanças do clima
Que provoca essa nova rotina.
Decretando as férias da morte;
Promovendo as pazes com a sorte;
Na presença do que antes não tinha.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]