O avesso do inverso

Meu verso é o avesso do inverso.
O normal do contrário, sem contrariá-lo;
O dizer do ser, sem nada expressá-lo;
A voz do silêncio que diz sem falar.

A gota que pinga e na poça respinga,
Ondula, tremula, bate e volta até sumir.
Mil passos vindos do passado,
Passando no piso, onde a poça repousa.

Sentado sobre um banco de praça
Observo com graça, a resiliência da água.
Jogada num copo, vira ela o copo.
Mutante amorfa que toma a forma da fôrma.

Que escorre e sem pernas corre.
Que reflete as cores, sem cores ter.
Absorve, espalha, dissolve e espelha.
A água é de toda maneira, faceira.

Tal como o vento que sai da “venta”,
A baforada que embaça o ar.
Fumaça branca que sai do carvão:
Preto, laranja, cinza e marrom.

Meu verso é o avesso do inverso.
O simples estado do complexo
Aquilo que é sem ter
E aquilo que tem sem ser.

Um vazio preenchido pelo nada;
A ausência completa de tudo.
O tudo que nunca se apaga;
A nódoa a nadar sobre a água.

No casamento das cores:
Pitadas de preto ou de branco.
Um facho de luz sobre a sombra
Atina temores e encantos.

Quem parte, faz seu regresso;
Quem morre, se une ao verso
Para compor o universo e ter…
O calor do avesso no inverno do verso.

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