De repente assim, adormeci. Vi o mundo de cabeça para baixo. Caminhei pelo piso, pulei sobre o portal do quarto. Segui para a cozinha e a água do filtro, estranhamente caía para cima.
Por pouco, não tropeço na lâmpada. Vixe, que confusão! Segui em direção à janela. Lá longe, o mundo de ponta cabeça deixava cair finas cascatas de poeira e esporadicamente, grandes pedras desprendiam-se como gotejos grosseiros e acinzentados. Algumas pessoas e animais, tentavam seguir para casas vizinhas e outros abrigos. Desciam pelos postes, caminhavam arriscadamente sobre blocos achatados aplicados sobre os fios. Muitas destas, caíam como folhas secas e desapareciam na plenitude de um pôr-do-sol enevoado.
Não entendi o por quê de algumas coisas permanecerem coladas ao chão, quando normalmente deveriam desprender-se. A exemplo dos telhados, dos vasos de plantas, dos móveis, automóveis e até bicicletas. O céu era o mesmo de sempre, mas estava abaixo de nós. Era um grande abismo iluminado e tudo que da terra caía, não seguia para o espaço. Acumulava-se nas bordas duma fina camada onde paira o ozônio.
Adiante, um bando de garças gracejas, “subvoavam” abaixo dos telhados mais altos do mundo. Numa das mais frondosas árvores: morcegos dormiam em pé, pardais pulavam para baixo retornando ao mesmo galho.
Só pode mesmo ser sonho! Indaguei. Pularei para o infinito! Pensei. E ao lançar-me para além da porta, sobre o chão do topo do mundo, caminhei. Corri pelas ruas, cruzei avenidas e chegando numa praça pardacenta, vi pessoas aprisionadas em suas casas; por trás das janelas, nenhuma delas, compreendia nada. Todas estampavam a face espantada. Pois, se alguma delas pulassem, cairiam. Mas só eu mantinha os pés no chão!
A terra está louca? Por que tudo se inverteu? Estaria eu perdido no mundo? Ou o mundo de todos, de mim esqueceu?
Ouvi um estrondo distante e tudo foi preterido. Abri os olhos e as coisas tinham seu posto antigo. Aquilo que parece ser normal. Sabia que era só um sonho! Da cama, logo saí… Segui com o café até a janela. Fitei o horizonte manchado; franzi a testa e estranhei o que vi… O mundo continuava invertido, sem mudar de posição. Vi a incompetência e o povo a aplaudia; em contrapartida, vaiavam a compreensão. O sábio era mais um ridículo; o tolo, a melhor opção. Chamavam de heróis, os bandidos e escondiam sobre as próprias mãos, os molhos de chaves que abrem as portas do progresso. E ainda assim, preferiam o retrocesso. A vontade que a maioria queria, era viver o inverso. Apreciando as dificuldades no seu modo mais complexo, mesmo com as chaves nas mãos! mesmo diante da solução.
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