Botija é o nome dado a qualquer recipiente feito geralmente em cerâmica (jarro) ou madeira (baú), usado para esconder artefatos de valor sentimental ou financeiro que, nos tempos em que nem todo mundo tinha como guardar suas economias em contas bancárias – deixá-las em casa era sinônimo de perigo devido a sua vulnerabilidade diante da bandidagem que estaria disposta a tudo para conseguir algo do tipo.
Botijas criativas
Nem todas as botijas eram de cerâmica ou madeira e nem todas eram potes ou baús. Para algumas pessoas mais criativas, as botijas eram portas, buracos em pisos falsos, colchões, santos, quadros, livros e esculturas.
Já se ouviu falar de supostas botijas encontradas durante reformas de velhos casarões urbanos ou terrenos agrícolas, ao pé de árvores, mouros ou em locas de pedras. Contudo algumas dessas botijas antigas, distante daquelas usadas para guardar as economias, são associadas a presentes sobrenaturais, dados por espíritos dos antigos donos que para livrar-se dos pesos que os prendem neste mundo, deveriam presenciar alguém para que fosse absolvido daquilo que o prendia ao mundo físico. Mas, conseguir obter as riquezas dessas botijas mágicas não seria algo tão fácil de se conseguir.
As botijas mágicas
Dizem os antigos que essas botijas mágicas são doadas por entidades sobrenaturais através de sonhos, aparições ou, pessoas vivas que a teria recebido de uma entidade, poderia repassar o presente. A tal entidade informa um horário que na maioria das histórias que se contam por aí, é ao meio dia ou à meia noite – horário em que os portais do mundo espirituais parecem abrir para o mundo físico.
Reza a lenda que o escolhido deve seguir até o local indicado sozinho e sem olhar para trás. Quanto mais próximo de encontrar o suposto tesouro, mais sinais assombrosos aparecem para distrair o felizardo. Uns dizem ter visto espíritos de pessoas, porcos, galinhas, cavalos. Outros dizem ter ouvido choros, gritos, risos, estalos, assovios e sopros ao pé do ouvido.
Feitiço desfeito
Basta um desvio de atenção para tais assombrações e o presente se perderem. Dentro da botija, ao invés de moedas cunhadas em ouro pratarias e joias, haverá apenas terra, cinzas, carvão, vermes, besouros, serpentes, panos sujos, areia ou esterco. O feitiço se desfaz na distração.
Os locais onde esses artefatos mágicos são enterrados – dizem os antigos conhecedores – costumam ser assombrados. Comumente à esquina uma estrada, num lajedo, embaixo de uma árvore ou arbusto, nas proximidades de uma pedra, numa encruzilhada, antigo casebre ou à beira de um barreiro, rio, riacho, lagoa ou barranco. Enfim, essas terras que fitam o horizonte escondem assombrações que se manifestam em forma de animais ou humanos; que surge de repente e logo desaparecem.
As botijas da vida
Quem dera receber de presente uma botija! pensariam alguns. Outras pessoas morreriam de medo (ver assombrações? Tô fora!); outros achariam isso uma grande besteira! O fato é que histórias de velhas botijas rondam o imaginário popular e saltam de gente em gente, na forma de contos, histórias de trancoso, achados reais e falsos achismos. Talvez tenham influência oriunda de contos nórdicos no qual potes de ouro eram deixados por duendes na base de um arco-íris. Talvez sejam frutos de histórias que fundem a realidade com a fantasia, criando uma espécie de limbo onde o real e o imaginário convivem em perfeita harmonia. Talvez…
Na vida, quantas botijas recebemos e as deixamos virar areia escoando entre os nossos dedos, justamente por conta das distrações que apareceram quando estávamos prestes a encontrar um grande tesouro? Esse tesouro, longe das fantasias e contos mirabolantes, podem ser pessoas e oportunidades que como a botija, depois que perde o encanto, esfarela-se.
Velhas distrações
Quantas botijas ainda existem enterradas por aí? Quantas não estão a assombrar a mente e o coração das pessoas? Quantas pessoas não estão sendo presenteadas agora com uma bela botija! Muitas vezes enterradas embaixo de nosso nariz e assombradas pelas coisas que não costumamos abrir mão. Coisas que na verdade, não tem valor algum.
Há tantos fantasmas a distrair nossas mentes fazendo-nos perder o foco naquilo que realmente importa: cavar e encontrar o verdadeiro tesouro sem se permitir distrair com aquilo que nos rouba a atenção; que é efêmero e apenas seduz para depois desaparecer com aquilo que deixamos de encontrar por um breve instante de distração.
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