Sou rabisco de múltiplas linhas
Desenhadas pelo tempo.
Cada traço conta um conto;
Cada canto, um sentimento.
Sou garranchos reordenados
Apesar de emaranhados
Um misto de linhas numa coisa só.
Se puxar qualquer ponta, surge um nó.
Nó cego, de marinheiro,
de forca, com força, com jeito.
Sou desenho perfeito, sou defeito.
Um composto de partes unidas.
Sou as linhas da avenida,
Silhuetas de aurora.
Curto histórias compridas
Alongo-me em pequenas memórias.
Sou passado com recheio de agora,
sou presença que se ausenta pelas horas.
Um esboço branco num borrão preto
Impressões de expressões e conceitos.
Um acúmulo de cúmulos
Num cume da ignorância.
Sou adulto, sou infância.
E entre o sim e o não,
sou precisa indecisão.
E quando “eu” tornar-me “era”,
depois de tanto rabiscos.
Serei caneta sem tinta
E Minh ‘alma fará moradia
Naquilo que em vida, escrevia.