Salve Antonio Candeia!
Cuja música pulsava nas veias.
Que tocava pandeiro enquanto mancava;
Encantado em batuques de quando dançava.
Coxo, das juntas desmentidas.
Carregava cicatrizes de injustiças.
Nádegas marcadas, cicatrizes na alma;
Olhar andarilho, hora completo, hora vazio.
Pés grosseiros a trilhar por estradas,
Chapéu de feltro com abas levantadas.
Um vulto roto, empoeirado, corpulento;
Maltrapilho e comboieiro a todo tempo.
Só queria rir, ir e vir.
Ser livre nessa vida barulhenta.
Velho artista buiquense
De mil oitocentos e setenta.
Pereceu anonimamente.
Sob o fardo dos injustiçados,
perseguidos, procurados.
Nos jornais, teve o nome publicado…
“Fugiu no dia 22 do corrente o escravo antonio”;
Assim o enunciado inicia.
Cinquenta mil réis é o quanto valia.
Antonio Candeia, o Preto.
Era escravo de outro Antonio, um Branco.
Fugiu ao encontro dos seus levando um pandeiro.
Na caatinga trilhava e ensaiava sambatuqueiros.
Engolido pelo tempo, foi viver no imaginário.
Encantou-se! encarnou-se! e por sua escolha
Transformou-se num pandeiro de folha.
COMENTÁRIOS