No sertão que já foi mar,
o que mais há, é alga…
Algaroba.
Há também um reinado sem rei ou rainha.
Lá, somente o chão tem coroas…
De frade.
No sertão, a moda dura uma vida!
Roupas, chinelos e acessórios de couro;
coisas que lá fora são vendidas como ouro.
No mato a moda resiste e todo mundo é chique.
O capricho é sempre dobrado.
Por isso, todos são xique-xiques.
E se alguém, em algum lugar, algo encenar…
Não peça palmas! Lá isso não se dá.
Planta-se, vende-se, compra-se…
A alma da palma são os espinhos.
Na mão do homem espeta e marca.
Perante a fome, o bicho se farta.
No sertão da ausência e da fartura,
há ciência, filosofia e cultura;
cordel no papel e xilogravura.
Vê-se no céu, jandaias verdes a voar
e asas brancas, nada angelicais,
a sobrevoar catingueiras e angicos.
Lá combina-se mel com fubá,
umbu com leite, tapioca com manteiga
e até vinho de mesa com tasco de romã.
No sertão, corvo é anu, sapo é cururu
e águia é carcará. Mas quem reina os céus
São os urubus, continuamente a girar.
No tacho preto, torram-se castanhas
Quem é de fora se encanta,
Quebra o torrão com pedra e aprecia a iguaria.
Lá, saco de náilon é bisaco, raiva é aperreio,
santo é “padin ciço”, benzedura é “armaria”
e mugido de boi é bom dia.
Café se toma com fé! E fitando-se a terra seca,
todo matuto adivinha o dia que a chuva chega
trazendo o verde da vida e a alegria da colheita.
No mundo, só no sertão, quatro estações não hão.
E aos pés do mandacaru, resistente mourão,
tudo é inverno ou somente verão.
Na escassez, secam-se as ervas,
desnutrem-se ou padecem os animais.
As lágrimas dizem: Nunca mais!
Há quem largue tudo e os que persistem.
Quem fica, experimenta o inferno,
aguarda o inverno e a sua recompensa.
O tempo é lembrança guiada a cavalo…
Deixando rastros empoeirados,
dissabores e prazeres findos, nesse sertão coroado.