Tudo aconteceu numa sexta-feira. Não recordo a data – no entanto, estava lendo um romance em meu sofá vermelho, iluminado à luz de vela. Por algum motivo desconhecido havia faltado energia em toda cidade. Sem que pudesse findar o ponto da última frase da terceira página acabei adormecendo.
Acordei abruptamente e, de início, não reconheci o lugar em que estava. Não era a minha sala, tampouco um lugar para se chamar de casa. Abri bem os olhos apesar da névoa que tomava tudo pela frente. Estava sentado num batente de poucos degraus; minhas costas repousavam na parede daquela antiga construção.
Um senhor de rosto familiar, vestido com roupas escuras e chapéu, movia uma vela acesa de um lado para o outro. Suas duas mãos estavam ocupadas, mas pude sentir repuxos em meus ombros, como braços invisíveis tentando reanimar-me.
Então disse aquele senhor: saia daqui rapaz! Ou eles irão encontrá-lo. É isso que quer? – Fitei a estrutura à minha frente e reconheci aquela capela, estava no cemitério. Reconheci também aquele rosto. Como pode ser? – indaguei surpreso. Era um antigo vigário da cidade e a capela, seu mausoléu.
– Vá! Corra para o museu, seja breve. – Disse o velho vigário. Virei as costas em corrida breve até o portão, tornei o olhar para trás e não o vi.
Na praça da Saudade, vi espíritos vagando pelo jardim, como hologramas transpassando as árvores, realizando movimentos flutuantes em que pareciam subir e descer constantemente. Um deles, o que parecia ser uma criança, brincava com um gato, também com aspecto de holograma em sua transparência azul esbranquiçado. O menino, soltou o bichano que correu até pouco mais adiante de mim. Olhei para o menino e ele sinalizou. Como que quisesse que eu seguisse o animal.
Apressei os passos e o gato corria cuidadosamente. Era fácil segui-lo apesar da neblina – seu brilho destacava-se na brancura que tomava conta das ruas.
Enquanto caminhava, vi dezenas de outros fantasmas nas portas das casas, sentados à beira das calçadas. Todos olhavam como curiosos ao avistarem um visitante desconhecido. Uma mistura de medo e coragem tomava conta de mim. Porém, não sabia distinguir se aquilo era sonho ou realidade.
Cheguei em frente à matriz de São Felix. À porta da igreja, outro padre este com chapéu quadrado de cor escura. Também o reconheci de fotos antigas pelos ombros, um mais baixo que o outro. Ele acenou com uma das mãos, e disse prossiga, ainda dá tempo!
Atravessei a praça e parei ao ver os ponteiros do relógio girando desordenadamente. Horas e minutos seguiam sentidos opostos. E então, avistei ao longe uma espécie de bola de fogo ao se aproximar. As chamas estouravam-se para os lados e em alguns instantes, aquela coisa parecia tomar a forma humana.
As portas do museu estavam abertas, entrei apressadamente pelo estreito corredor e por pouco não fui golpeado por pedaços de ossos arremessados por um esqueleto humano que por alguma razão não saia daquele quarto.
O gato entrou no quarto seguinte, onde haviam alguns oratórios. Um deles, destacava-se pela cor azul e vermelho. O gato pulou atravessando as portinholas e sumiu. O chão começou a estremecer. Pude ouvir rangidos no telhado – aquela casa parecia balançar-se levemente. Abri as portinholas do oratório e uma forte luz saiu de seu interior.
Depois disso acordei. E lá estava eu em meu sofá vermelho, à luz da vela, agora pela metade. Havia cochilado e no cochilo deixei o livro cair no chão.
– Que sonho foi esse? Pensei. No entanto, olhando para a janela. Lá estava o bichano de olhos azuis. – Franzi as sobrancelhas antes que disse qualquer coisa, num grande salto para a escuridão, sua sombra desapareceu em meio a neblina daquela estranha madrugada.
Será que o percurso findava ali? Deveria eu continuar a seguir o animai? Quem sabe numa outra noite dessas em que a gente acorda aos pés de um mausoléu.
Meu amigo você é um talento nato.
Parabéns pela sua obra.
Meu amigo você tem muito talento. Parabéns pela sua obra.
Obrigado amigo.
Parabéns meu primo, vejo mais que talento em você, vejo que encontrou o que muitos nunca encontrão e as vezes nem entendem que deveriam procurar, que é o prazer no que faz todos os dias que tem a dádiva de acordar mais uma vez, isso não há dinheiro que compense abrir mão, conversei com um amigo de Recife esses dias, ele estava tão focado no retorno financeiro que esqueceu de fazer o que realmente importava para ele, mas acredito que agora ele vai dar um jeito de unir as duas coisas, mais uma vez parabéns !
Obrigado primo. A grande alegria da vida está em querer o que se tem e fazer o que se pode com as ferramentas que estiverem ao nosso alcance. O resto vem com o que soubermos fazer.