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Um manto acinzentado encobriu a cidade.
Fazendo do calçamento uma laje rígida
E do horizonte, uma parede mórbida,
Enquanto o vento rasgava esquinas em assobios.
A chuva fina lançava-se em lufadas violentas
Contra a azulada flâmula a debater-se.
Parecia querer fugir, desprender-se do mastro.
Na praça, a estátua de Frei Damião e sua longa barba
Enchia-se com a voz do silêncio… Era o vento!
Transformado no senhor do tempo,
Ondulando-se em passagens estreitas,
Mergulhando da esquina da igreja
Para o beco da cruz.
Era a frieza a escorrer nas hastes
De um mar de guarda-chuvas.
Era o frio de pescoço encolhido,
Nariz entupido e tremores labiais.
Era um deserto molhado
De areias e correntezas.
Trazendo de volta às veredas,
Escudos de lã e algodão.
O tempo, figurado no vento;
Naquele exato momento anunciava
A tempestade de raios que no céu clareava.
Trazendo consigo um medo primitivo…
Do estrondo que se faz trovão.
Era o esfriamento das cores em escala de cinza.
Era o sono, a cama, o sonho e o desejo de sonhar.
Uma morte temporária… Na passagem que é guia
Aos confins do eu.
Um “eu” que se converte em tempo, ventania, trovão,
Relâmpago, silêncio, chuva, aflição.
Na ausência das cores pela cor da ausência
E diante da essência da reflexão.
Era um pouco de tudo e muito do nada…
Numa cidade que nada sabe, nada sente e tudo vive.
Habitada por amantes da vontade do ter,
Perdidos no desejo de ser,
Que tudo tem sem nada ver,
Que tudo é sem nada ter.
Eram várias mentes a interpretar a paisagem
Por entre as janelas do mundo.
Eram as palavras de sempre,
Vagante em olhares profundos.
A generosidade e o sorriso travestido em lembranças;
A presença daquilo que não se tinha;
O agora que o passado perdeu e o futuro não viu.
Era aquilo que o presente sempre soube preservar.
Eram os ponteiros em marcha
E o constante estado da mudança.
Por fim, era um pouco de tudo a cada segundo;
Era também muito do nada em cada palavra.
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